sexta-feira, 24 de julho de 2020

Temos de combinar

Temos de combinar,
um café, um jantar, um cinema,
quem sabe uma tarde cinzenta,
mais o tédio do que a chuva,
uma pensão de subúrbios
pés descalços pela alcatifa puída,
lençóis supostamente de seda,
cerveja em vez de um vinho
porque o vinho é demasiado mau,
um chocolate para dois,
dois cafés, dois cigarros,
sair em carros separados.
Temos de combinar,
já servimos um ao outro de consolo,
já soprámos as velas do bolo
e bebemos champanhe
e cantámos canções.
Temos de combinar,
pois a vida é tão breve,
os dias voam,
as rugas magoam
e os iogurtes no frigorífico
ficam fora de prazo,
não se podem colher.

Raquel Serejo Martins

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