sábado, 6 de janeiro de 2018

Segunda voz


Pintura de David Cunningham
Olha à tua volta. O que é que falta aqui?
Está uma belíssima noite, pelos padrões do Alasca,
a cidade inteira enrolada a um canto da névoa
e a sala de uma casa emprestada a transformar-se
num mecanismo adicional de solidão:
retratos e livros misturados nas estantes,
memórias alheias de que não tiras proveito.
Quem foi o tolo que disse que a ausência
faz crescer o afecto? Guarda a tua raiva,
é um recurso precioso. Não te livras do turno
da noite, dos pensamentos neuróticos da tua cabeça,
uma espécie de monólogo das aulas de teatro. Mas
quem sabe o que o passado te reserva para esta insónia?
Pode ser whisky, ou preferes algo mais frutado?
Vítor Nogueira

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