Chegam cedo demais, quando ainda não podem escolher
nem decidir. Vêm carregados de espectros, de memórias
e de feridas que não souberam sarar; mas trazem a
confiança
da cura nas palavras. Convencem-se de que amam outra vez
quando nos tocam os pequenos lugares, esquecendo-se do
rumo
incerto dos seus passos nas estradas tortuosas que os
trouxeram. Abafam-se num cobertor de mentiras sem saber e
falam de injustiça quando tentamos chamá-los à verdade.
Dormem de vez em quando nas nossas camas e protegêmo-los
da dor como aos filhos que não iremos ter nunca
porque não nos resignamos a perdê-los. E, um dia, partem,
vão
culpados, não chegam a explicar o que os arrasta.
Escrevem,
cartas mais tarde ― uma ou duas para se aliviarem dessa
espada.
E nós fiamos, eternamente, sem vergonha, à espera que
regressem.
Maria do Rosário Pedreira
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