domingo, 13 de janeiro de 2013

E agora

E agora, de alma vazia como tantas
vezes,
contemplo o passar lento dos dias
que me empurram não sei para que destino
escuro, pressentido
já sem curiosidade. É aborrecido
saber e não saber, enganar-se
e acertar. Também estar seguro
é tão insuportável em muitos casos
como duvidar, como ceder, como desmoronar-se.


Seguro, a salvo, agora
que a dor já passou,
observo a borrasca tal como a esteira
fundida nas minhas costas
com o espesso limo
dos sucessos quotidianos, dados
ao esquecimento, antes de serem recordações.
A indiferença ante a própria sorte
não é melhor companheira que a angústia,
nem meu sorriso
(quando o acaso nos põe,
velho amor,
frente a frente)
representa outra coisa do que a ausência
de um gesto mais justo
para significar a seca, dolorosa,
irreparável perda do pranto.


Ángel González

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