segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

uma casa no fim do mundo

Detestava pensar que , fosse qual fosse a nossa opção - uma vida extravagante e perigosa ou uma existência segura e confortável de dedicação ao trabalho -, chegaríamos sempre à mesma vaga insatisfação e à esperança de que a geração seguinte conseguisse fazer mais e melhor.

Mostrei-me doce e flexível com pessoas que acabaram por me expulsar das suas vidas devido a uma qualquer indeterminada ofensa minha. Pessoas que afirmavam morrer se eu as abandonasse e depois me esbofeteavam em fúria por ter comprado a marca de cerveja errada. (...)
A partir dos trinta comecei a desistir do amor. Comecei a viver como uma criança, uma hora depois da outra, enquanto as mulheres da minha idade assistiam aos recitais e peças escolares dos filhos.

Até certo ponto, a maneira como estava a envelhecer agradava-me. Tinha inventado a minha própria vida. Não era uma cerimoniosa mulher de carreira a viver com dois gatos numa casa cheia de mapas antigos. Não era uma alcoólica alternando entre bebedeiras e ressacas. Orgulhava-me disso. Contudo, esperara chegar aos trinta e seis anos com um mais geral sentido de orgulho em mim própria. Esperava poder dizer, a quem mo perguntasse, o que andava eu a fazer no mundo.

Há poucos destinos inteiramente desagradáveis, caso contrário talvez conseguíssemos escapar-lhes mais facilmente.

(Excertos de Uma Casa no Fim do Mundo de Michael Cunningham)

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